Um é angolano, outro georgiano e os restantes cinco são ucranianos. Trabalham para uma empresa de construção civil portuguesa, de Esposende, e estavam desde Janeiro em Dreux, no Norte de França. Há dois meses deixaram de receber os salários.
Nas últimas três semanas já nem trabalho tinham. "Passámos muita fome", resume Mamuka Tsomaya, um dos dois que têm nacionalidade portuguesa.
Os sete trabalhadores conseguiram chegar ontem ao Porto, depois de, alegam, terem sido "abandonados" pelos patrões em Dreux, onde chegaram a ser notícia pela situação em que se encontravam: dormiam, em grupos de três, num espaço de seis metros quadrados, não tinham onde cozinhar e também já não tinham dinheiro para comer. Esta semana, perdidas as esperanças de receberem aquilo a que tinham direito, pediram às famílias que lhes enviassem dinheiro. Abasteceram a carrinha da empresa que lhes estava atribuída e puseram-se a caminho.
O caso foi ontem denunciado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção do Norte, cujo coordenador, Albano Ribeiro, o classificou como "escravatura contemporânea". "Existe a tendência para, com a falta de trabalho em Portugal, os trabalhadores serem cada vez mais atraídos para este tipo de situações, e mesmo por redes mafiosas de angariadores", explicou aquele responsável.
Depois de receber os sete trabalhadores do grupo PAJ, o sindicato chamou também a PSP, para proceder à entrega do veículo de fuga, para que não haja lugar a qualquer acusação dos operários. Albano Ribeiro prometeu ainda comunicar o caso à Polícia Judiciária, já que os sete trabalhadores se queixam de que lhes era retirada do ordenado uma quantia de 150 euros sem qualquer explicação.
"Nem o consulado nos podia ajudar, já que só dois têm a nacionalidade e podiam ser repatriados", explicava ontem Volodymyr Podobiuskyy. "Estávamos numa situação muito precária. O encarregado mandava esperar, dizia que a empresa francesa não tinha pago o que devia, mas depois a empresa francesa mostrou-nos o cheque do depósito", acrescentou Jovano Rogeiro.
Paulo Sá, um dos administradores do grupo PAJ, recusou ontem, em declarações ao PÚBLICO, as acusações dos trabalhadores. Diz que estavam alojados num hotel e que tinham dinheiro para comer. "Estávamos a trabalhar para a ASTP France, que não nos paga nada há três meses e pediu a falência. Devem-nos 180 e tal mil euros e, mesmo assim, só temos um mês de salários em atraso, que estão agora a sair para pagamento. Estamos a fazer pressão junto das autoridades portuguesas e francesas e o caso foi até transmitido à Inspecção do Trabalho de Braga, mas já nos devem 2,5 milhões de euros em obras", explicou Paulo Sá. "Como é que conseguimos viver com isto?", pergunta.
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