No último inquérito aos prazos de recebimento declarado pelas empresas de obras públicas elaborado pela Federação da Construção (Fepicop) - o inquérito da Primavera - verifica-se que os prazos médios de recebimento declarados pelas empresas de obras públicas fixou-se agora em sete meses (208 dias), o que representa um agravamento de 14 dias face ao inquérito de Outono anterior.
Segundo o inquérito, uma em cada três autarquias portuguesas liquida as suas dívidas num prazo superior a seis meses. E cinco por cento do total das câmaras trabalhadas neste estudo (em termos estatísticos, só foi possível analisar de forma individualizada as facturas de 123 câmaras) pagam as suas dívidas às empresas de construção num prazo superior a um ano. A factura mais atrasada tem 18 meses.
Depois do pico registado no Outono de 2008, altura em que os prazos médios de recebimento atingiram os oitos meses, a tendência tinha sido de queda nestes prazos. Agora, voltaram a subir. "O agravamento de 14 dias, pode parecer pouco. O problema é que são 14 dias que se somam a sete meses... O pior mesmo é que os prazos voltaram a alargar-se e, numa fase como esta, não podemos deixar de ficar preocupados", afirma Reis Campos, dirigente da Fepicop. A "fase" mencionada por este dirigente corresponde à degradação que tem vindo a ser sentida pelo sector desde há oito anos - com perdas acumuladas na ordem dos 31 por cento e 140 mil postos de trabalho sacrificados.
A esta conjuntura, alega Reis Campos, somam-se os dados do último semestre, relativos ao número de obras publicas adjudicadas - que caiu, em termos homólogos, 54,6 por cento -, mas também a cada vez maior restrição no acesso ao crédito. Nos primeiros seis meses deste ano, os empréstimos da banca concedidos a empresas de construção caiu 28 por cento. "Foram menos 980 milhões de euros", afirma Reis Campos. Um montante que ultrapassa, inclusivamente, o valor estimado do montante global da dívida em atraso da administração local às empresas de construção - o qual atingiu, este semestre, os 830 milhões de euros. Já chegaram a ser quase mil milhões. "O valor tem vindo a diminuir, porque as obras também são menos", explica o dirigente.
Uma análise mais fina dos resultados do inquérito permite verificar que há autarquias que, em cinco semestres, levaram mais de um ano a pagar as suas facturas (Aveiro e Tabuaço). Nos últimos seis meses, houve seis câmaras que precisaram de mais de 12 meses para liquidar as facturas: para além de Aveiro e Tabuaço, também as câmaras de Alijó, Faro, Melgaço e Vila Nova de Gaia. A Câmara de Lisboa, que, desde a Primavera de 2008, estava neste escalão, conseguiu neste último semestre reduzir essa média para um prazo entre seis e nove meses. O Porto, que chegou a demorar em média entre três a seis meses a pagar, começou em 2009 a liquidar as facturas num prazo inferior a três meses, e mantém-no em 2010. Já com a Câmara de Matosinhos aconteceu o oposto. Se, em 2008 e em 2009, estava entre o lote de municípios que pagavam num prazo inferior a três meses, no último semestre precisou de uma média entre seis e nove meses para pagar.
As câmaras que demoram, em média, mais de nove meses a pagar as suas facturas às construtoras são Chamusca, Figueira da Foz, Paredes de Coura, Penafiel, Ponte da Barca, Portalegre, Santa Maria da Feira, Santarém e Vila Real de Santo António.
Fonte: Jornal Público
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